sábado, 29 de setembro de 2012

Paul Cole e Abbey Road - uma história do Rock


Oito de agosto de 1969, uma manhã de sol que tem pouco a ver com a cara de Londres. “- Quero conhecer mais esse Museu, não vou demorar”. Paul Cole não acreditava no que estava ouvindo. Perdera a conta dos museus os quais havia entrado e saído nos últimos dias - pra ele, bastava de museus. Mas passar férias em Londres era um sonho antigo de sua esposa e não queria desagradá-la. Ponderou: “- Você vai lá, dê uma olhada, não tenha pressa e eu ficarei aqui para ver o que está acontecendo do lado de fora.” E assim ficou por ali, aproveitando pra se olhar no reflexo negro de um carro de polícia - óculos e casacos recém comprados, acha que ficou bem, apenas um “tapa” no cabelo pra completar o visual alinhado. Um policial o observava de dentro do carro, puxou papo: “ -O senhor e sua esposa são de onde?” Paul arrumou os óculos: “-Deerfield Beach, Flórida, Estados Unidos. Minha esposa não pode ver um museu, já quer entrar.” E a conversa se estendeu por mais de uma hora, sobre o tráfego, a história de Londres, a história daquela rua, enquanto rolava há metros dali uma movimentação estranho. Paul percebeu uns caras atravessando a rua diversas vezes, iam e voltavam sobre a zebra da esquina. Volta e meia, a policia parava o trânsito e os caras repetiam a caminhada. Conversavam entre si, no meio da rua, ou em fila indiana e um fotógrafo registrava tudo frenéticamente. Usavam uns ternos modernos, mas que não combinavam muito com os cabelos compridos. Um dos quatro estava descalço. Chegou a pensar que fosse algum protesto contra a guerra, coisa do tipo, mas não. Talvez uma sessão de fotos para alguma capa de revista. Ia perguntar ao policial se sabia alguma coisa, quando foi puxado pelo braço. Ester tinha deixado o Museu e chamava o marido para pegarem um táxi. Se foi.

Deerfield, Flórida – primavera de 1970. O vendedor Paul Cole chega do trabalho. Encontra a filha Joan na sala, fones no ouvido. “- Disco novo?” E pega a capa encima do toca discos. Conhecia a rua e agora reconhecia os cabeludos na capa. Aproximou a capa pra enxergar melhor por sobre os óculos – também conhecia a viatura parada no meio fio e reconheceu ali a sua silhueta  de casaco novo, “perto” do ombro de John Lennon.

Que coisa. Foram necessários vários anos para que Paul Cole percebesse o que significava estar ali na Rua Abbey Road naquele agosto de 1969. Sem querer, participou da capa de um dos discos mais cultuados dos Beatles e um dos registros fotográficos mais antológicos da história do Rock. Aos 93 anos, Paul faleceu em 2008, o misterioso estranho da Rua Abbey Road, em frente aos estúdios da gravadora EMI. E, naquele dia de 69, estava apenas enjoado de ver museus. 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Squash brasileiro no PAN 2012

Foi definida no dia 9 de setembro de 2012, em Belo Horizonte, (Minas Gerais/ Brasil), a equipe de Squash que defenderá o Brasil nos jogos Pan-americanos de outubro, no Equador. 


O atletas que estarão lá são: Manoel Pereira (São Paulo), Júnior Christovam (São Paulo), Vinícius Rodrigues (Minas Gerais) e, na reserva, Roni Duarte (Rio de Janeiro).

Boa sorte a esse esquadrão guerreiro, uma tropa de elite que vai, com certeza, elevar ainda mais o nome do Brasil no Squash Latino-americano.


sábado, 22 de setembro de 2012

O Bina e o Walkman - A Cesar o que é de Cesar

Nicolai e Pavel
Inventores reféns de suas crias

Dois caras, dois destinos, duas histórias. Andréas Pavel e Nélio José Nicolai, inventores. Pavel é alemão naturalizado brasileiro, ex Diretor de programação da TV Cultura e produtor de documentários pra TV. Mas ficou conhecido como o inventor que registrou em 1977 a patente do avô do ipod, o walkman. Meses depois, a Sony lançou o aparelho e deu inicio a uma pendenga judicial que durou 24 anos. Reconhecida a paternidade da invenção, a gigante japonesa fez acordo com Pavel. Até então, Akio Morita, dono da Sony morto em 1999, era tido como o inventor do walkman. Nélio Nicolai, mineiro morador de Brasília, é o inventor responsável por tornar a expressão “Quem fala?” uma expressão morta. Eletrotécnico de formação, Quando trabalhava na Telebrasília, os trotes infantis eram a principal dor de cabeça da operadora. Obcecado por uma solução, inventou o bina, sistema que reconhece o número do telefone de quem liga (BINA é a sigla de “B Identifica Número de A”). Sem incentivo da empresa para a qual trabalhava, registrou o invento por conta própria em 1980. O corpo de bombeiros de Brasília, cansado de trotes, se interessou pelo invento de Nicolai e quatro Binas foram instalados na corporação. Daí pra que o sistema se tornasse famoso foi questão de tempo. E aí começou a luta de Nicolai pra provar que era o pai da criança, luta que, ao contrário de Pavel, ainda não foi vencida, apesar dessa e mais 40 invenções terem registro formal no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). No caso de Nicolai, até a Ericsson e a Bell Canada tiraram uma casquinha, sem falar no atual uso disseminado feito por operadoras de celulares. Segundo seu advogado, se fossem ganhas, seriam indenizações de mais de 180 bilhões de reais.

O ponto comum dessa história toda: dois gênios investem uma vida inteira na briga pelo usufruto condigno do mérito por suas invenções. Segue sem explicação essa obsessão humana por pilhar a idéia alheia e que comumente mostra seu lado mais sombrio dentro das próprias empresas. Tudo em nome da “saudável” concorrência de mercado. Nada mais primitivo. Nada mais humano.  

fontes: revista Galileu, revista Época, wikipedia 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Celular para crianças: "- dou, não dou?" parte II


Sigo pensando no post anterior, tão rico e perturbador que chamou outro post. Coisa rara aqui no blog. Dar celular pra crianças de 13 anos ainda não me convence, faltam argumentos. A Dra. Wendy Sue Swanson foi cuidadosa em não assumir posições no artigo do The New York Times, focando-se em dados de pesquisa. Isso me traz um certo alívio. É natural titubear quando uma liderança de opinião tem um posicionamento diferente do seu e vem com alguma base. Me pergunto se na rotina de uma criança de 13 anos existe algum compromisso ou evento imprevisto que torne necessário carregar um celular full time. Me transporto ao dia em que fui à minha primeira festa, tinha 13 anos. Meu pai não dormiu naquela noite, mas não se opôs a me dar uma carona, ida e volta. E assim foi até que ele adquirisse confiança suficiente pra deixar que saísse e voltasse no carro dos amigos, todos eles conhecidos e “filmados” de perto.

Escola da Flórida - estímulo ao uso didático
Quando a criança adquire o direito de ir a uma festa, leva de brinde a carona dos pais. Normal, faz parte do pacote chamado “direito de ir e vir”. Mas não leva o direito de uso da ferramenta (o carro). Uma criança não tem maturidade, prática, comedimento e muito menos carteira de habilitação (ao menos no Brasil, onde o mínimo exigido é 18 anos).  E, um detalhe importante: não tem condições de pagar a gasolina que seja (por conta própria). Estou tentado a ver o celular sob a mesma perspectiva – à medida que vão surgindo situações as quais exijam comunicação em tempo real, vou prover isso: um celular “da casa” com restrição de recursos (sem web ou quaisquer aplicativos supérfluos) e com uma restrita lista de chamadas (casa, parentes, polícia, bombeiros, amigo próximo da família). Esse aparelho fica “no hangar” até haver consenso (meu com minha esposa) sobre se, para aquele evento “x”, o celular pode ser útil. Um chip pré-pago será o combustível e qualquer necessidade a mais de uso poderá ser descontada da mesada, mediante outro consenso. É a velha máxima motivacional de que só é possível desfrutar a pleno daquilo que posso pagar, é assim com tudo na vida.

Aguardo que uma nova tendência possa me surpreender - o uso produtivo do celular em sala de aula, por exemplo. Em algumas escolas americanas, a criançada é incitada a participar de jogos interativos na sala de aula. Também recebe SMS da escola com lembretes de suas tarefas de casa e de suas provas. É a área pedagógica se moldando aos novos tempos. Se isso for um caminho sem volta, prometo rever tudo.  

Você concorda? Não? Viva a diversidade...

fontes: Kajeet website, New York Times website, Folha online, The Pwe Research website.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Celular para crianças: "- dou, não dou?


O dilema hi-tech do momento - vai dar um celular pro seu filho?

Vendo o quanto o “senso de urgência” ficou avacalhado com o aparecimento dos celulares e smartphones, me dá um frio na espinha. A atitude irracional de qualquer um de nós adultos enquanto usamos nossos telefones mostra claramente como isso pode ser potencializado na mão de uma criança. Vendo a forma como filhos de amigos meus ostentam seus aparelhinhos quando chegam na escola ou como mostram o pequeno troféu numa festa de aniversário - perco o humor.

Cresci numa época em que “dar ou não dar uma bicicleta” e, pouco depois, “tirar ou não tirar a rodinha de apoio da bicicleta” tirava noite de sono de qualquer pai. Hoje essa aflição (e, porque não dizer, pânico) me assombra quando o assunto é dar celular pra filho. E quando? A pediatra americana Wendy Sue Swanson cita uma pesquisa realizada pelo The Pew Research Center & American LifeProject. Na pesquisa, a grande maioria das respostas aponta para 13 anos como sendo a idade ideal. E sugere que o modelo de aparelho seja o mais otimizado possível - a criança não tem ainda a menor condição de julgar o que seria o melhor uso e dar um smartphone nesse caso seria uma completa insensatez.

Dra. Wanson
"nada é mais saudável que
o acompanhamento dos pais"
Uma empresa americana chamada Kajeet (Chicago, Illinois/EUA) aponta para o que vai ser o futuro próximo – se especializou em ser uma empresa de telefonia para crianças. Vendem aparelhos e planos customizados para dar às crianças o que els precisam e aos pais a tranqüilidade e segurança necessárias. Com um celular Kajeet, é possível restringir funções, tempo de uso, ou sites e aplicativos não autorizados. E ainda vem com localizador em tempo real. Vendo essa realidade, fico pensando em que patamar vivemos - uma agência reguladora precisa cortar a venda de planos de telefonia num pais inteiro pra que as respectivas empresas invistam em estrutura básica de comunicação – a briga no Brasil é por conseguir fazer ligações. Mantenho minha posição sobre ficarmos nos diminuindo frente ao que vem de fora: patético absurdo. Mas tem coisas que não dá. 

A própria Dra. Swanson adverte que não existe controle mais saudável do que o acompanhamento dos pais. O dilema dos celulares com a criançada não é um evento novo. Foi assim com a TV, com o videocassete, videogames e computadores. É tudo tela. E há que se dar sentido a isso, impondo limites saudáveis para que a criança possa ter uma diversidade de experiências, inclusive tecnológicas. Mas sigo achando que perder a noite de sono pensando se "tira ou não a rodinha da bicicleta" dava bem menos menos medo...

fontes: Kajeet website, New York Times website, Folha online, The Pwe Research website.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

terça-feira, 11 de setembro de 2012

11 de setembro - como vovô já dizia


Todo o 11 de setembro, ao longo destes onze anos, lembro do meu avô. Lembro que falava da guerra como o acontecimento mais marcante da geração dele. Com o olhar distante, dizia também que “só quem viveu naquela época podia entender o que foi a II guerra, mesmo não tendo lutado nela. Nossas vidas andavam em função daquilo e no rádio, era só que se ouvia.”
Quando se fala no 11 de setembro nunca falta um comentário malicioso tipo “e Hiroshima não foi pior?” ou “e o Vietnã? Não matou mais gente?”

O pensamento simples do meu avô explica em parte essa contradição: para quem viveu o fato, perto ou longe, é fato – aconteceu no tempo presente. Pra quem não viveu o momento ocorrido, por mais que os registros não deixem esquecer, é história. E história contada não tem o mesmo impacto. A tecnologia nos faz participantes de ocasos como os do 11 de setembro – a cobertura é instantânea, dá quase para estar ali em 3D. Mas naqueles anos 30 e 40, era o papel do rádio.

Segundo a imprensa, dez anos foram necessários para que os americanos assimilassem os atentados. Sinal disso é o número de pessoas presentes nas cerimônias do 11º ano, nos locais dos fatídicos. Locais esvaziados, comparando com 2011 (10 anos) e talvez, a partir de agora, tenha maior significado apenas para os parentes. Mas não dá pra negar que um atentado daqueles no quintal do país que queria levar o mundo nas costas, mexe com tudo – os EUA mudaram, por isso o mundo vem mudando. Se pra melhor ou pra pior, o futuro vai dizer. Como dizia meu avô, só quem esteve lá vai saber o que tudo isso significa. 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Hoax – só compartilha quem cai no conto


Você sabe o que é um Hoax? É uma farsa, traduzindo em bom português. Aquelas mentiras que alguém inventa, bota nas redes sociais e todo mundo sai compartilhando. Dureza isso. Pior que receber tantos compartilhamentos de utilidade duvidosa, é receber coisas cujo conteúdo o emissário nem leu ou, se leu, não entendeu. E, pior: leu, entendeu, acreditou e era um “hoax”. Só que, em alguns casos, a pessoa está sendo usada como inocente útil, pra multiplicar links maliciosos e malwares. O caso mais emblemático (que, volta e meia, ressuscita) é o aviso “o Facebook agora é uma empresa de capital provado....”. Já recebi isso várias vezes, tanto por mail quanto no próprio Facebook. Resolvi então reproduzir na integra matéria no blog Gizmodo sobre esse assunto. Outros hoax famosos são aquelas fotos de crianças estropiadas precisando de cirurgia, apelos dramáticos sobre jovens desaparecidos e outras tantas bobagens - não caia nessa, infelizmente tem gente afim de gozar da com a sua boa fé, só que via web (tudo normal, vida real). E sobre o Facebook, leia com atenção e, por Deus, não compartilhe mais o famoso aviso. Seus amigos agradecem!

No Facebook, “aviso de privacidade” é mais um viral enganoso
(por Felipe Ventura, na íntegra – Gizmodo)

Nos últimos dias, mais um boato viral começou a se espalhar no Facebook. Dizem que, se você publicar a mensagem abaixo – um “aviso de privacidade” – você protege todos os seus dados na rede social de qualquer pessoa ou entidade, inclusive do governo americano. Claro que isso não adianta de nada. Na verdade, este hoax é meio antigo: ele circulava em inglês desde o final de maio. Mas, traduzido para o português, agora ele ganhou força entre brasileiros. Só que o hoax foi desmentido há meses. O Snopes, conhecido por analisar farsas da web há mais de 15 anos, já deu o seu veredito: o tal “aviso de privacidade” é falso. Vamos analisar por partes: O texto começa afirmando que o Facebook agora é uma entidade de capital aberto, sem dizer se isso é importante. E não é: “capital aberto” significa apenas que as ações do Facebook são negociadas em bolsa de valores – não muda em nada a política de privacidade. Depois, o texto sugere que o Facebook pode usar todas as suas informações de forma pública – mas não pode. Nos termos de uso, um dos seus principais direitos é: “você é proprietário de todo o conteúdo e informações que publica no Facebook”. Além disso, na política de privacidade, fica claro que só será público o que você tornar público, mais os seguintes dados: nome; sexo (M/F); nome e ID de usuário; e imagem de perfil e capa. O Facebook pode não ser dono dos seus dados, mas pode usá-los para diversos fins, que eles detalham na seção “como usamos as informações que recebemos“. Um post no seu perfil não vai mudar isso: ao entrar na rede social, você já concordou com todas as regras. E, no fim, ele ainda termina com “UCC 1-103 1-308″: isto se refere a um conjunto de leis comerciais nos EUA, que nada têm a ver com privacidade. Basicamente, se você usa o Facebook, você já concordou com os termos de uso, que incluem a política de privacidade – leia-os aqui e aqui. Mesmo que você esteja realmente paranoico, achando que alguém está espionando você, pare de importunar seus amigos com esse hoax – ele não serve de nada. [Snopes via Slate via CBS News]

O hoax:
O Facebook é agora uma entidade de capital aberto. Recomenda-se a todos os membros que afixem um aviso semelhante a este, ou se preferir pode copiar e colar esta versão. Se não publicar tal declaração pelo menos uma vez, então está indirectamente permitindo o uso público de itens como suas fotos e as informações contidas em suas actualizações de status.
AVISO DE PRIVACIDADE: Aviso – qualquer pessoa e / ou instituição e / ou agente e / ou Agência de qualquer estrutura governamental, incluindo, mas não limitado ao Governo Federal dos Estados Unidos, também usando ou monitorando este site ou qualquer um dos seus sites associados, NÃO tem a minha permissão para utilizar qualquer uma das informações do meu perfil, nem qualquer parte do conteúdo aqui contida, incluindo, mas não limitado às minhas fotos, e / ou os comentários feitos sobre as minhas fotos ou qualquer outra “imagem” de arte publicado no meu perfil.
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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

2012 - o ano em que Van Halen voltou

Me perdoe o genial Sammy Hagar, mas Van Halen mesmo é com David Lee Roth

Mr. David Lee Roth em 1983 e em 2012 - um senhor do Rock, 
vaidoso e bem humorado, com sempre
Difícil saber se tudo o que se fala de David Lee Roth é verdade. Reza a lenda que, depois de ser chutado do Van Halen em 1985, passou um tempo dirigindo ambulâncias em trabalho voluntário por Nova York. Saiu de uma das maiores bandas de Rock de todos os tempos por achar o som dos caras “entedioso”.  E foi terminantemente contra a participação de Eddie Van Halen em “Beat It” (Michael Jackson – 1983). Depois disso, a relação dos músicos se desgastou. Isso é o que se lê no ideário do Rock.

O que importa é que os caras voltaram, fizeram um bom disco e, David Lee com 56 anos, mostra que está bem pra um senhor do Rock. Sempre bem humorado, no início de 2012, desmistificou em entrevista outro mito da banda: a famosa cláusula proibindo M&Ms marrons no camarim dos músicos – sob pena de cancelamento imediato do show e do produtor ter que arcar com o valor integral do contrato. Segundo ele, foi a forma que encontrou de fazer os produtores lerem o contrato quilométrico à risca e cumprirem as solicitações quanto à estrutura e normas de segurança exigidas pela banda. Nos anos 80, o Van Halen tinha a maior e mais vertiginosa estrutura de show existente – tudo era mega e isso implicava em palcos especiais, portas especiais para passagem dos equipamentos, edificações adequadas. Como os caras não liam o contrato, toda vez que a equipe chegava pra montar tudo, eram horas a mais pra resolver impasses de estrutura. A coisa mudou quando um dia ele destruiu um camarim ao encontrar um pote com M&Ms marrons no backstage. A notícia se espalhou e os produtores começaram a levar o assunto a sério. A banda se divertia ao chegar para os shows e ver tudo impecavelmente montado, segundo os pré-requisitos de contrato e, no backstage, garotas lindas e peitudas, com luvas, separando cuidadosamente em um pote todos os M&Ms marrons, antes de levarem os doces para o camarim dos músicos. Veja abaixo entrevista em inglês e logo mais abaixo show no Canadá com a música “Tattoo”, do muito bom disco de 2012, “A Different Kind Of Truth”.



quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Drogas e o vício - o que os olhos não esquecem


Falar de vício - fácil pra quem vê o problema de fora e de forma bidimensional. 

Não faço apologia ou juízo de valor, pois corro o risco de assumir uma postura cabida apenas a quem vive o problema. Já vi o enlevo pela bebida. A vida da pessoa vira um céu e depois um inferno, quando na verdade, nunca houve céu. Pura ilusão. E esses olhos já viram o inferno de quem se descobre vencido pela cocaína – o tempo não é suficiente pra esquecer algo assim. Era meu segundo emprego, me espelhava num colega, um querido. Aprendi muito com ele. Era sofisticado pra atender clientes, sagaz com os números e implacável na venda. E tinha mel, todo mundo gostava do cara. Se me perguntassem como eu via o futuro dele, respondia sem pensar: era o próximo chefe de alguém, com certeza. Até que, um dia, o Saulo sumiu (nome fictício, pra preservar sua identidade). Não atendia telefone, não respondia e-mail, não apareceu mais no escritório. Não era o tipo de cara que passava despercebido e isso preocupou. Uma semana após o sumiço, a família envolveu polícia. Entraram no apartamento e o encontraram pelado, desacordado, em plena crise de abstinência. O chão do apartamento era cenário de guerra – comida pelo chão, roupas, pertences e, ao que parecia, tinha desmontado uns cinco computadores. Peças de todos os tamanhos pra todos os lados, misturadas com cadeiras quebradas, gavetas reviradas. O apartamento quase não tinha móveis e o que tinha, tava aos pedaços. Passados uns dias, fui visitá-lo na internação de uma clínica famosa. Dei um livro pra ele, do Fernão Capelo Gaivota, onde escrevi uma dedicatória: “amigo, tenha paciência e que Deus te dê sabedoria para seguir adiante. Um forte e caloroso abraço.” Quando leu a dedicatória, Saulo se emocionou e me endereçou aquele olhar vazio. Lembrei dos personagens do Nicholas Cage, sempre aquele semblante atordoado. Agradeceu o livro e se foi, acompanhado por um enfermeiro. Nunca mais vi o Saulo e nunca mais esqueci aquele olhar.

Quando li que o Brasil é o segundo país no mundo no consumo de cocaína e derivados, lembrei do caso do Saulo. 2,8 milhões de brasileiros consumiram cocaína nos últimos 12 meses, até a data da pesquisa (Unifesp 2012). É mais que a população de Salvador, a terceira maior cidade do Brasil. E 35% dessas pessoas estão no estado de São Paulo. Vendo a coisa por essa perspectiva, fica ainda mais assustador. Só temos um caminho: alertar nossos filhos e fazer de tudo pra que entendam (e fiquem longe) dessa realidade. Já temos “Saulos” demais nas nossas portas.